quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Solaris: precisamos de espelhos e não de mundos

Solaris é um filme de ficção científica russo de 1972, dirigido por Andrei Tartovsky baseado no livro homônimo de um dos maiores expoentes da sci-fi russa, Stanislaw Lem. Mas, terminado o filme, fica aquela sensação de que o final não foi compreendido em todas as suas nuances. Bem, este post não busca dar a explicação certa para o final, mas simplesmente a opinião deste blog sobre o filme. Sinta-se livre para expressar sua opinião nos comentários, ficaremos muito felizes se você o fizer.

Para os desavisados, este post estará repletos de spoilers, então é melhor assistir esse clássico mundial antes (o filme tem um ritmo bem lento, mas vale muito a pena, não desista!):

SPOILER ALERT
Bem, no final do filme, Kris Kelvin, está de volta na casa de seus pais, um lugar tranquilo e sereno. Mas algo está errado, seu pai não percebe que está chovendo dentro de casa. Pai e filho se abraçam, afinal, Kris nunca achou que voltaria para casa. A câmera sobrevoa o lugar e revela que, no final das contas, a cena se passa no próprio planeta Solaris. Mas como isso é possível?

Recapitulando o que havia acontecido antes no filme, devemos lembrar que as alucinações na estação espacial cessaram somente após o Dr. Snaut ter enviado o encefalograma de Kelvin ao oceano de Solaris. Minha opinião é que, ao receber esse estudo de ondas cerebrais, o oceano compreendeu a mente humana, e percebeu o mal que estava causando aos tripulantes da estação, ao perturbá-los com as "ilusões de neutrinos".

Logo em seguida, surgem ilhas no oceano. Mas qual o significado destas ilhas? Na prática, ao compreender a mente dos tripulantes da estação, suponho que o oceano entendeu o saudosismo que estes sentiam de suas terras natais e criou um tipo de santuário para cada um deles, já que a viagem de volta para casa seria demorada e praticamente impossível. Nisto, Kris desce para a ilha e reconforta-se ao estar de volta à sua casa. Um ponto que reforça essa teoria é a de que não há quaisquer imagens remetendo à viagem dele de volta à Terra.

Pouca diferença prática haveria entre a casa original (na Terra) e esta criada pelo planeta Solaris, já que o ecossistema se aperfeiçoaria com o tempo e seu pai passaria e se tornar "mais humano" (como ocorreu com Hari, apesar das crises de identidade). Seu pai, depois de um tempo, perceberia a chuva dentro de casa, aprimoraria suas funções biológicas, aprenderia a domir etc.

Metaforicamente, as ilhas representam a individualidade humana, o isolamento que cada um representa frente a seus comuns. O oceano entendeu tão bem a mente humana que, mesmo sendo uma mente coletiva, percebeu que cada homem é único, intangível e inacessível em certo nível psicológico, necessitando cada um de sua utopia.

Toda a história gira em torno da ideia central do filme: a inabilidade do ser humano em compreender outros tipos de inteligência, gerada pela própria incapacidade do homem de se autodeterminar. "Precisamos de espelhos, e não de mundos", esta é a frase que melhor representa o enredo.

E parece ser uma própria negação à sci-fi, "não explorem o universo! Entendam a si mesmos primeiro!" Todavia, percebe-se que o autor/diretor busca demonstrar o alcance deste gênero, não limitada pela exploração físico-espacial, mas expandida às ciências da psique, da exploração dos sentimentos e emoções dos seres humanos.

Afinal, não seria o desconhecido o objetivo da ficção científica? Enquanto Solaris entendeu o ser humano, este não foi capaz, ao menos, de entender a si mesmo.

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