domingo, 24 de agosto de 2014

CRÔNICAS DO GÊNIO E DA DESTRUIÇÃO: Capítulo II - Estrangulamento

CRÔNICAS DO GÊNIO E DA DESTRUIÇÃO



Capítulo II - Estrangulamento


Cavador do Infinito

"Com a lâmpada do Sonho desce aflito 
E sobe aos mundos mais imponderáveis,
Vai abafando as queixas implacáveis, 
Da alma o profundo e soluçado grito.

Ânsias, Desejos, tudo a fogo escrito 
Sente, em redor, nos astros inefáveis. 
Cava nas fundas eras insondáveis 
O cavador do trágico Infinito.

E quanto mais pelo Infinito cava 
mais o Infinito se transforma em lava 
E o cavador se perde nas distâncias...

Alto levanta a lâmpada do Sonho. 
E como seu vulto pálido e tristonho 
Cava os abismos das eternas ânsias!
"

João da Cruz e Sousa



Com bastante espaço agora, só me resta continuar a carregar o fardo estafante de descrever a nuvem negra que passou sobre o destino do tartarianos. Não queria ser o Hermes de revelações tão ominosas, mas todo contador de histórias, em algum momento, chega nesta encruzilhada: conta o que foi que se passou como realmente foi, ou conta com subjetivismo buscando iluminar a essência verdadeira do ocorrido. Pense em um sujeito que cava rumo ao infinito: quanto mais fundo se enraíza, maior a distância percorrida em metros. Ponto final. Porém, seria essa descrição suficiente para fazer o leitor ver o que significa verdadeiramente cavar rumo ao perpétuo? Não é tal atividade a perfeita metáfora da vida?

Interrompo esse devaneio filosófico para continuar a narrativa. Os tartarianos são seres de muito poder, e os homens, tão atentos às benesses como aos prejuízos que a tarefa do domínio poderia trazer, planejaram minuciosamente sua conquista. É realmente uma desdita muito grande a dos tartarianos, só a má-sorte ou castigo divino explica terem de afrontar seres capazes de arquitetar o mal, gerando tamanha atrocidade.

Estou me alongando. Peço desculpas aos senhores por isso. Vou falar o relevante neste próximo parágrafo. É só que a escravidão é uma realidade que me enoja de tal forma, que até pensar sobre ela me causa desgosto. Contudo, se é pela necessidade de continuar esse capítulo que prometi relatar, me sacrificarei!

A morte teria sido fatalidade mais branda. Para evitar que se comunicassem "mimicamente", os humanos colocaram capacetes nas cabeças dos tartarianos, de forma que desde o nascimento não vissem um pingo de luminosidade. Lembrem-se que devido a evolução corporal-biológica própria dessa raça alienígena, que se constrói dependendo das experiências de vida, a 'máscara da cegueira' significou a criação de tartarianos cegos que não sabiam se comunicar. O elmo possuía um dispositivo que quando ativado gerava muita dor e dessa forma os tartarianos foram sendo educados como animais domésticos, na realização de atividades que interessavam aos 'donos'.

Destarte, para ficar bem esclarecido o processo, um tartariano filhote era comprado pelo Senhor de Escravos. Esse filhote era treinado, por exemplo, para carregar carga como um burro, sendo que após um certo tempo, o tartariano evolvia para o formato de um quadrúpede, coerente com o adestramento realizado. É fácil notar porque os tartarianos eram usados nas mais variadas atividades, aumentando a produtividade de empresários e se tornando um elemento essencial para a economia. E não é preciso ser um grande estudioso, basta ser um bom observador, para entender que quando algo é "economicamente indispensável", por maior injustiça que faça, sua manutenção é a lei, sua destruição, algum tipo de revolução.

As revoluções acontecem quando milhares se unem, embalados por um ideal abstrato que querem ver concretizado o mais rápido possível. Todavia, em nosso curto capítulo, cabe dizer que não houveram revoluções. O que existiu foi a previsão de uma. O imperador Piedosus, certo de seu domínio, agora não mais limitado ao próprio planeta, mas às outras dimensões, resolveu consultar-se com o oráculo de Sofled, apenas para garantir a certeza que tinha: seu controle era inquebrantável.

- Grande Oráculo de Sofled, diga-me diante de minha reza: haverá força capaz de destruir minha nação? Sagradas sejam vossas antevisões.
- Ainda não existe tal força, mas poderá existir. Dentre os filhotes de tartarianos, há um que atingirá o nível de Ryzykopos, que na língua da população original, seres ancestrais que existiram antes dos tartarianos, significa "Santo". Esse indivíduo, terá de passar por algumas provações, se vencê-las, é certo que será capaz de reformar o status quo que vige.

Piedosus não podia acreditar no que havia escutado. Sua autoridade totalitária, seu método de monitoramento, fracassara. Não! O Oráculo havia dito apenas "poderá existir"! Havia esperança! No outro dia, o Imperador mandou que fossem mortos todos os filhotes de tartarianos. E as águas do rio de sofrimento e miséria, em que afogavam os tartarianos, foram tingidas do vermelho lôbrego do infanticídio. Entretanto, um filho de tartariano sobreviveu! Não é a hora de entrar em detalhes do como, mas o fato é que sobreviveu, pois sua mãe "Não podendo, porém, mais escondê-lo, tomou uma arca de juncos, e a betumou com betume e pez; e, pondo nela o menino, a pôs nos juncos à borda do rio".

O que aconteceu com o pobre tartariano órfão? O que o Oráculo quer dizer por provações? Como a mãe conseguiu salvar o filho? Gostaria de poder responder essas perguntas aos senhores, creio porém, que só poderei fazê-lo no próximo capítulo. 

sábado, 23 de agosto de 2014

Resenha: O Ladrão de Crianças

Título: O Ladrão de Crianças

Autor: Gerald Brom

Publicação original: 2009

Número de páginas: 432

Editora no Brasil: Benvirá (2014)

ISBN: 978-85-02-21935-9


O Ladrão de Crianças (The Child Thief) é uma espécie de releitura do clássico Peter Pan, uma releitura muito mais violenta, adulta e obscura diga-se de passagem. O livro tem como protagonista Peter, uma criatura com aparência de um garoto, mas que é de fato um ser mágico, que visita a cidade de Nova York de tempos em tempos para "recrutar" crianças para um tipo de guerra sobrenatural na ilha de Avalon.É através desta premissa que Brom nos apresenta a uma mistura de lenda arturiana, do clássico infantil de J. M. Barrie e de diversos outros mitos, contos e lendas escocesas e celtas na mítica ilha de Avalon, com todos os seus monstros, bruxas, crianças assassinas, elfos e demônios.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Resenha: Os Guardiões da Galáxia

"Nenhum guaxinim ou criatura árvore foram molestados durante a filmagem desse filme"


Dividido em tópicos, este post traz uma breve resenha do filme (sem spoilers), análise do elenco, lista de músicas na trilha sonora, análise da equipe nos quadrinhos, e a cena pós crédito (tratada abertamente).


Resenha

O filme inicia-se em 1988, durante a morte da mãe de Jason Quill e sua revelação febril de que o pai do garoto era um ser feito "da mais pura luz". Ao fugir do hospital, o garoto é abduzido pela nave de Yondu Udonta e desde então, passa a conhecer a vida como saqueador.

Em um de seus trabalhos, Quill captura um misterioso orbe, mas acaba preso. Na prisão, conhece outros foras-da-lei e acaba montando uma parceria com eles. Rocket Racoon é um guaxinim temperamental caçador de recompensas; Groot é seu guarda-costas, uma criatura árvore que resume sua fala a três palavras "Eu sou Groot"; Gamora é filha adotiva do titã Thanos (que aparece na cena pós-créditos do filme "Os Vingadores" e faz uma breve aparição neste filme); e Drax o Destruidor, que vem da tragédia da perda de sua mulher e filha pelo vilão Ronan.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Notícia: Aleph irá lançar The Forever War de Joe Haldeman


Nossa adorada Editora Aleph irá lançar a obra-prima de Joe Haldeman: The Forever War. O livro conta a história do estudante de física Mandella que é enviado por uma força tarefa de elite das Forças Exploratórias das Nações Unidas para combater a ameaça dos misteriosos Taureanos. 

O obra é uma das poucas da literatura de ficção científica a receber ambos os maiores prêmios do gênero o Hugo, em 1976, e o Nebula em 1975, além do Locus Award em 1976.

O clássico de ficção científica militar já havia sido lançado no Brasil em 2009 pela editora Landscape sob o título "Guerra sem Fim" mas atualmente não é encontrado nas estantes de grandes livrarias, somente em sebos.

A edição da Aleph sairá no primeiro semestre de 2015, mas ainda não tem um título traduzido.

Para os interessados em quadrinhos, lembro a todos que há a versão do livro em graphic novel pelo artista belga Marvano, dividido em uma trilogia (Private Mandella, Lieutenant Mandella e Major Mandella).

Fiquem atentos para uma possível resenha à época do lançamento da edição brasileira.