sábado, 23 de agosto de 2014

Resenha: O Ladrão de Crianças

Título: O Ladrão de Crianças

Autor: Gerald Brom

Publicação original: 2009

Número de páginas: 432

Editora no Brasil: Benvirá (2014)

ISBN: 978-85-02-21935-9


O Ladrão de Crianças (The Child Thief) é uma espécie de releitura do clássico Peter Pan, uma releitura muito mais violenta, adulta e obscura diga-se de passagem. O livro tem como protagonista Peter, uma criatura com aparência de um garoto, mas que é de fato um ser mágico, que visita a cidade de Nova York de tempos em tempos para "recrutar" crianças para um tipo de guerra sobrenatural na ilha de Avalon.É através desta premissa que Brom nos apresenta a uma mistura de lenda arturiana, do clássico infantil de J. M. Barrie e de diversos outros mitos, contos e lendas escocesas e celtas na mítica ilha de Avalon, com todos os seus monstros, bruxas, crianças assassinas, elfos e demônios.




Mas nem tudo na obra se associa ao simples escapismo de uma dark fantasy, uma vez que a única razão de Peter sair de Avalon e ir para Nova York é a busca por crianças desamparadas, que sofreram com a violência ou abuso de adultos, seja resgatando-as diretamente de suas famílias desfuncionais ou encontrando-as após a fuga das mesmas vivendo em condições precárias nas ruas. Ao conseguir a amizade dos garotos e garotas e mediante promessas de uma vida melhor, Peter convence-os a partir para a ilha encantada de Avalon, onde, caso sobrevivam a névoa mágica capaz de deixá-los perdidos até que morram de fome, farão parte dos Diabos, o grupo de renegados liderados pelo protagonista. Contudo, assim que chega na ilha Nick, o mais recente recruta de Peter e importante personagem na história, descobre que as crianças são submetidas a um treinamento para que se tornem soldados e sejam capaz de expulsar da ilha uma horda de homens transformados em monstros em uma batalha quase interminável.

O autor consegue passar ao leitor a situação de desamparo das crianças e o que as leva a confiar cegamente em Peter, ao ponto de segui-lo para a morte certa em uma guerra absurda com a qual nada tem a ver. Do mesmo modo são apresentadas as motivações do próprio Peter e sua origem, fundamentando toda a origem seu comportamento paradoxal, a um momento protegendo a todo custo os garotos e em outro arriscando a vida dos mesmos pela menor chance possível de acabar com a luta pela ilha. Em determinado ponto da leitura é apresentada a perspectiva dos inimigos do protagonista, tornando a história ainda mais cinza e eliminando o conceito de que há um verdadeiro culpado por todo o conflito, paralelamente ao suscitamento de questionamentos envolvendo a religião e seu efeito sobre pessoas em situações extremas.

Repleto de questões psicológicas interessantes, uma mitologia empolgante e um bom desenvolvimento de personagens, seja o contraponto das ideias de Nick e Peter ou as dúvidas do Capitão, Brom complementa a obra com suas próprias ilustrações, um conjunto de elementos positivos que tornam tal releitura de um ótimo livro de fantasia.

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