sábado, 28 de novembro de 2015

Misery: contando histórias para viver

    Misery é uma história de horror psicológico, ou seja, consiste principalmente na tensão e nas habilidades de King para manter essa tensão sem que fuja da verossimilhança criada dentro do mundo em que se passa o tormento do protagonista Paul Sheldon. 

     Na trama, que seria lançado sob o pseudônimo de Richard Bachamn, que acabou sendo descoberto antes do lançamento do livro, Paul Sheldon é autor de uma série famosa de best-sellers sobre a personagem Misery Chastain. Mas é quando Paul acaba seu novo livre, uma história de crime chamada Carros Velozes que ele fica empolgado e resolve dirigir até Los Angeles, sendo pego no caminho por uma nevasca e sofrendo um terrível acidente de carro.

     É aí que entra em cena Annie Wilkes, ex enfermeira e auto-intitulada fã número um de Paul Sheldon, que o resgata do acidente do carro e leva o acidentado para sua casa nas proximidades, fascinada pelas aventuras de Misery. O primeiro problema começa pelo fato de Paul querer se livrar de Misery para sair da sombra do mainstream e se dedicar a suas obras mais ousadas. O segundo problema é que Annie é uma verdadeira psicopata, forçando o cativo a escrever uma nova história de sua heroina, uma que tem de agradá-la ou Paul acabará encontrando seu fim.

     Além de todo o sofrimento pelo qual nosso "herói" passa, o chamariz do romance se fundamenta no conhecimento de King sobre o processo de escrita, sobre o qual ele discorre de modo difundido com o narrar da trama através de seu personagem. Em um momento ele explica como dar guinadas na história e surpreender o leitor, atentando ao fato de que não se pode tirar algo totalmente inverossímil do chapéu no qual os leitores em momento algum acreditarão, ou seja, deve-se ser engenhoso sem recorrer ao famoso deus ex machina. É aí que King explica e dá o exemplo, coloca Paul em uma situação primeiramente insana, mas a construção que ele faz torna-a totalmente crível e qualquer invencionice sem fundamento acarretaria na mesma falta de credibilidade que Annie o acusa através de seu exemplo simples e acessível logo no começo da história.

     Além de toda essa questão da verossimilhança que torna racional e agradável os mais diversos tipos de ficção, principalmente a ficção de gênero bem construída, do terror à fantasia medieval, King ainda nos apresenta um autor tentando sair da sombra de sua criação mais popular e tentar criar algo mais próprio de suas inspirações, bem como a destruição de um homem tanto física quanto psicologicamente.

     Uma leitura com passo rápido e bem construída mais do que essencial para os fãs do autor e aos que nunca tenham lido algo do mestre do terror.

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