terça-feira, 15 de julho de 2014

Resenha: Ubik


Título: Ubik

Autor: Philip K. Dick

Publicação original: 1969

Número de páginas: 240

Editora no Brasil: Aleph

ISBN:  9780547572291


Ubik é, antes de tudo, uma verdadeira crítica ao consumismo capitalista dos dias de hoje. Logo no começo do livro, ao sermos apresentados ao personagem Joe Chip, já percebemos tal elemento da história. Joe tem de pagar não apenas para que sua própria cafeteira funcione, mas também para que a porta de sua geladeira abra e também para que a de sua própria casa abra para que ele receba visitas ou saia dela! A porta até mesmo refuta as tentativas de Joe de não pagá-la. Outro aspecto do consumismo representado na obra são os meios de pagamento, muitas vezes confusos, apresentados no seguinte trecho:


 “- Pagarei a conta vencida com a Chave Mágica Triangular – ele informou a seu antagonista sombrio – Isso deve transferir a dívida para fora de sua jurisdição. Em seus registros constará restituição total.
- Mais multas mais punições.
- Passarei tudo isso para minha Chave em Forma de Coração...”



Além disso, Dick desenvolve a narrativa dando uma abordagem à morte e como as pessoas lidam com ela em um mundo em que se pode prolongar a “vida” através de uma chamada meia-vida. Nesta, as pessoas ficam em um estado quase vegetativo com um determinado número de vezes que pode ser “acordada” e interagir com seus familiares através de aparelhos que permitem que estes escutem o indivíduo mesmo que ele não possa controlar mais seu corpo. Vale ressaltar que esse estado é descrito como um período de espera para que a pessoa possa renascer em outro útero, sendo que ela constantemente vê uma luz que, dependendo de suas características, indica como serão as condições iniciais em sua nova vida, o que resulta em comentários interessantes de como as pessoas lidam como essa espécie de certeza de um renascimento.

Outro elemento integral da história são os poderes psiônicos dos personagens, sendo a empresa para qual Joe Chip trabalha uma espécie de segurança privada, que impede que telepatas e precogs explorem determinadas empresas comuns sem que estas saibam ou possam se defender. Todo esse conceito é muito interessante e contribui mais ainda para o ambiente capitalista em que se passa a história, uma vez que não apenas verifica-se o consumismo desenfreado e enraizado como também a própria morte, através dos moratórios (locais em que permanecem as pessoas em meia-vida), é explorada do ponto de vista capitalista. Assim, os aspectos mais estranhos a se pensar da humanidade como uma espécie de vida após a morte e poderes paranormais são integrados a sociedade de maneira capitalista e vista como comum por todos.

Em certos momentos a história fica um pouco confusa devido as possibilidades de o que realmente está acontecendo, uma vez que Joe Chip e vários outros empregagados da Runciter e Associados se encontram em uma situação estranha e ameaçadora depois de uma missão na Lua que acaba em traição e na explosão de uma bomba. Não comentarei mais a respeito disso para não estragar a surpresa, já que o próprio plot twist ao final do livro, mesmo que de certa forma já apresentado como uma possibilidade no decorrer do mesmo ainda é supreendente e incrível, tendo-se em vista que são apresentadas outras possíveis explicações quando Chip começa a conjecturar o que está acontecendo realmente.

Portanto, Ubik, como outras obras de Philip K. Dick, é uma abordagem de questões metafísicas, teológicas e que exploram a mente humana em cenários que representam as perspectivas humanas e nosso potencial mental verdadeiro, brincando com a imaginação e requerendo uma boa dose de atenção caso o leitor queira entender tudo aquilo que se implica a partir da leitura do livro.

O verdadeiro final do livro ainda dá um nó em sua cabeça, fazendo com que questione-se tudo o que tinha pensado compreender no decorrer da história, isso garante até uma possível nova leitura logo após a primeira.

Um comentário:

  1. Oi de novo! A pessoa louca aqui resolveu comentar em vários posts de uma vez só. Não repare não... =P
    Eu gostei muito de Ubik. A crítica a nossa sociedade de consumo foi para mim o melhor aspecto do livro. Aquele final então... Nossa! Incrível.
    Eu escrevi uma resenha para Ubik lá no meu blog, caso te interesse:
    http://maquiadanalivraria.blogspot.com.br/2014/05/ubik-philip-k-dick.html
    Beijo!
    Eduarda, do Maquiada na Livraria.

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