domingo, 20 de julho de 2014

CRÔNICAS DO GÊNIO E DA DESTRUIÇÃO: Capítulo I - A Escravização dos Tartarianos

CRÔNICAS DO GÊNIO E DA DESTRUIÇÃO




Capítulo I - A Escravização dos Tartarianos


Há muito que a raça humana vinha buscando descobrir uma maneira de viajar por incógnitos universos. Cosmos do grotesco e do arabesco, do infinito e além. As grandes mentes de cada Era sentiam que havia algo em algum lugar. E é difícil descrever essa sensação: como a fé, você sabe, contudo, não possui quaisquer provas. O que quer que essas notáveis cabeças acreditassem, não tinha substância e era desconhecida da cartografia. 

Todavia, a época da revelação veio, decidindo se o sentimento era verídico ou falso. Sempre o tempo, único dono legítimo da verdade, arrastado e infindável, quem julgará a validade de tudo o que foi pensado por todos nós.

O grande Mago Berformot conseguiu, após 235 anos de estudo e tentativa, descobrir a fórmula alquímica que era capaz de abrir passagem às chamadas "Terras de Fora". Em termos de data, isso foi por volta do ano 8.000, época de grandes avanços após as guerras milenares. Faço um parênteses para ressaltar, que isso tudo é apenas a parte introdutória da história. O evento que nos interessa ocorre por volta de 8.500. Não quero apressar as coisas, pulando partes importantes da história dos homens, mas é que no momento minúcias não nos importam. Tudo de relevante será contado no devido tempo.

Não cabe no exato instante, por exemplo, explicar como eram feitas os deslocamentos deste mundo para os outros. Só é necessário que se saiba: as viagens interdimensionais tornaram-se possíveis, trazendo como consequência a interação da humanidade com os mais variados planetas e seres.

A partir de 8.090, a humanidade já havia conhecido diversas outras "Terras de Fora". Cito, a título de amostra: o planeta dos elfos, a ilha invisível e o castelo inacabável. Esses e outros lugares fantásticos foram visitados, estudados, cartografados, e alguns deles, infelizmente, dominados. A ânsia do homem pelo domínio e poder é tão grande que não cabe nem em sua própria orbe, extravasa pelas têmporas e os leva aos desígnios da violência, rumo à conquista de países de utopia e imaginação. Todo trono é, na verdade, uma cadeira, toda coroa, um chapéu. Não é em outro mundo que não o da ilusão, que cadeiras e chapéus levam homens à loucura, corrupção e assassinato.

Um dos firmamentos escravizados foi denominado pelos primeiros viajantes humanos de "Tártaro". E não é difícil entender a razão da alcunha. O céu é uma guerra entre um vermelho e amarelo explosivos, já na areia, a cor rúbida é absoluta. A vegetação é desértica, mas há florestas de cogumelos gigantes que formam microclimas aqui e ali, dependendo de certas variáveis incompreensíveis para alguém que, como eu, não tem estudos profundos na área. A topografia é predominantemente de planícies retilíneas, com algumas montanhas ou crateras gigantes que surgem desavisadamente à medida que se locomove pela região. Em volta do Tártaro, existe um terreno montanhoso labiríntico, que sempre termina em uma espécie de parede rochosa. Esse muro é de altura desconhecida, e a impressão que se tem é que o Tártaro, na verdade, é um local que existe dentro de um buraco. Empreendimentos  foram feitos para se chegar ao topo, mas todos restaram infrutíferos, e talvez seja mesmo impossível atingi-lo. Contrariamente à experiência do invasor, a população original afirma que já houve aqueles que subiram ao topo e voltaram como "Ryzykopos",  em uma tradução bastante grosseira, seria o nosso equivalente à palavra "Santo".

Essa população ancestral não possuí um sistema de escrita ou de comunicação sonora. Comunicam-se por meio de gestos, podendo dizer que possuem uma espécie de "linguagem mímica". Apesar da primitividade que essa explanação possa erroneamente dar a entender, esta espécie, chamada de "tartariana", pode disseminar mensagens complexas com movimentos bastante simples, como meros movimentos oculares. Também possuíam uma audição apurada.

Passemos agora à sua constituição física que é bastante variável.

Existem os tartarianos em vários estágios de evolução. Nas ciências naturais, chamamos o desenvolvimento de certos insetos, como o da borboleta, de "Holometabolismo", constituindo uma evolução em quatro fases: ovo, larva, pupa e imago. Os tartarianos, porém, evoluem de forma diferenciada dependendo dos treinamentos que fazem e das suas experiências de vida. Didaticamente, pode-se se dizer que há um espectro que vai desde aqueles que são muito altos e fortes, pois desde muito jovens se envolveram com a caça e o trabalho braçal, até os que possuem uma cabeça muito grande e corpo franzino, devido ao trabalho intelectual. Sempre que "evoluem", ficam um ano hibernando em uma espécie de casulo. Passado este período, o tartariano sai com uma estrutura física modificada em relação à anterior.

Algumas evoluções são regressões, coloquialmente "involuções", no sentido de que representam uma diminuição das capacidades gerais do ser. Outras representam uma progressão, como a do tartariano atlético que após a hibernação no casulo, renasce ainda mais rijo. Enfim, muito há para ser dito sobre questões biológicas, mas o importante é que retomemos ao referido no título do capítulo: os tartarianos foram escravizados pela raça humana.

A elasticidade da capacidade de evolução dessa sublime espécie permitiu que os homens os moldassem às necessidades da civilização e da contemporaneidade do pequeno planeta Terra. Assim, tartarianos fortes para carregarem objetos pesados, rápidos para entregar correspondências, inteligentes para fazer cálculos e inventar coisas, mas tudo pelo e para os homens, seus novos mestres.

E já faziam 388 anos de escravidão.

E os tartarianos que conheceram a liberdade pereceram.

Sua história destruída, seus costumes esquecidos.

Destarte, como dito anteriormente, por volta de 8.500, mais especificadamente 8.488, é que finalmente ocorre o evento do qual toda essa narrativa introdutória depende, entretanto, acabei por me alongar muito, e tendo tanto para dizer, só me resta o espaço para continuar no próximo capítulo. 



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