O brasileiro, em média, lê o equivalente a 4 livros por ano (sendo apenas 2,1 livros de cabo a rabo), segundo a 3ª edição da pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil" feita em 2012. Além disso, estima-se que 75% dos brasileiros nunca teriam frequentado uma biblioteca na vida. Outra pesquisa, da Federação do Comérico (Fecomércio) do Rio de Janeiro, estima que 70% dos brasileiros não leram um livro sequer em 2014.
Outro exemplo da situação: a ganhadora do prêmio nobel de literatura 2015, a escritora bielorussa Svetlana Alexievich, tem sua obra traduzida em mais de 10 idiomas, mas o português brasileiro não é um deles. É de se surpreender que uma candidata ao nobel não tenha qualquer tipo de atenção das editoras brasileiras (depois de anunciada a premiação, a Editora Companhia das Letras anunciou que vai publicar quatro livros da autora).
É triste observar esse fato, ainda mais porque, queira ou não, vejo a literatura como uma obrigação, além de paixão. É interessante que a pessoa goste de ler, mas se não gostar, tem que ler assim mesmo. Como o sujeito vai desenvolver um arsenal crítico, uma compreensão de mundo coerente, entender as grandes ideias que moldam nossas instituições, sem a leitura de livros? Não existe algo como "aprender com a vida" ou utilizar puramente a intuição quando lidamos com o fenômeno complexo que é hoje o mundo contemporâneo, em questões como os refugiados sírios, terrorismo, liberdade de imprensa, direitos humanos, política criminal, políticas econômicas e financeiras, taxa de juros, etc...
Aliás, hoje em dia, que assunto que sai na grande mídia que não é altamente complexo e requer uma dose razoável de leitura para ser compreendido? Impeachment da Dilma; o caso de Mariana, os atentados em Paris, a escalada de Donald Trump na corrida eleitoral Republicana, só para ficar com alguns exemplos. Todos exigem uma base de conhecimentos que só pode ser adquirida pela estudo, sobretudo pela leitura. Mas não formamos leitores. Céus! Leitores? Não formamos nada com as condições escabrosas do nosso ensino (primário, fundamental, médio, técnico e Universitário; não se salva nenhum).
Nesse sentido, uma aproximação com a literatura de ficção científica (Sci-Fi) e de fantasia deveria ser buscada pelos nossos órgãos de educação. Como querem que nessa estrutura produtora de analfabetos e sem uma cultura favorável, os meninos e meninas de nosso país leiam Machado de Assis e José de Alencar?
Não me entendam mal. Autores clássicos devem ser lidos, e mais que ninguém eu busco dar importância aos clássicos. Também não digo que a Sci-Fi ou Fantasia são literaturas menores. O que quero dizer é: ao ler estes gêneros, a proximidade temporal (momento que o livro foi publicado), a linguagem mais palatável, o ritmo menos lento e a imaginatividade das histórias pode ser uma porta de entrada interessante para atrair os jovens para o mundo dos livros, sem perder a base para fazer discussões interessantes e desenvolver o senso crítico dos alunos.
Como exemplo, pegue-se a trilogia "Jogos Vorazes". É evidente que "Jogos Vorazes" não é o melhor livro escrito da história da literatura ("Harry Potter" também não; desculpa, fãs), contudo, ele não é um livro ruim e, pode-se dizer, é até bom dentro do seu contexto. Soma-se a isso, o fato de que está na grande mídia, com filmes cheios de ação hollywoodiana, interessantes sobretudo para os mais novos. A história trata de guerra, relacionamentos, escravidão, manipulação midiática e desigualdade social: um prato cheio para gerar discussões interessantíssimas que associadas a um filme-livro que tem um marketing brutal pode ser uma ferramenta educativa interessante.
O próprio "Harry Potter" é um ótimo exemplo do que estou falando: formou uma massa gigantesca de leitores brasileiros, principalmente entre alunos do ensino primário e fundamental, que, passaram a ler verdadeiros 'tijolos' de 700, 800 páginas, mesmo os que tinham lido pouco antes deste fenômeno cultural que foi a história do menino-mago.
Daí a importância dos gêneros Sci-Fi e Fantasia para a didática da leitura, para o interessar-se pela leitura e para o impulso crítico inicial na formação do estudante. A educação da leitura no Brasil deve buscar saídas arrojadas, criativas, usando os poucos recursos que tem. Desinteressante é continuar com essa massa de analfabetos funcionais que vemos por aí. E não precisam me atacar como se estivesse me colocando numa posição superior: é só observar as discussões nos grupos de Facebook e nas Páginas de comentários de G1 que vão entender do que estou falando (claro que há exceções, mas me refiro à regra).
Torço muito para que a fantasia e a ficção científica abram muitas portas para novos leitores no Brasil. Hoje em dia, com os celulares dominando praticamente todas as crianças e adolescentes, torna-se uma tarefa complicada, mas devemos dar o exemplo a eles.
ResponderExcluirFeliz 2016!!
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